03 October 2006

Público em Revista


Dizer-se que o jornalismo online português deixa muito a desejar começa a tornar-se num cliché. Ainda assim, por muito gastas que já estejam as palavras, o facto é que deixa mesmo muito a desejar. O jornalismo online em Portugal já nasceu com barbas, que herdou da imprensa escrita. A lógica do "jornalismo de papel" passa impune para as páginas online. As potencialidades do campo informativo online continuam a ser ignoradas, os sites criados são encarados como meros depositários da imprensa escrita.


Este discurso revolucionário a roçar o repetido e repetitivo, o chato e o já sabido, serve de introdução à análise do Público online. Não significa por isso que vá bombardear o site com críticas. Apenas remeto para a já previsível conclusão...


O site do jornal Público foi recentemente reformulado. Um design mais atractivo e adequado ao meio online, bastante diferente do que conhecemos deste jornal impresso, é o principal factor a destacar deste "novo" Público. Além disso, podemos destacar uma navegabilidade mais simplificada e acessível, bem como uma razoável quantidade de links e temas. À primeira vista, o site quase merece um "satisfaz bastante".


À primeira vista, disse bem. De facto a navegabilidade e o design satisfazem bastante, mas o site, tal como a grande maioria dos sites portugueses, fica muito, mas muito além do alcançado pelos seus congéneres estrangeiros. A multimedialidade é uma distante miragem, uma vez que de vídeos e registos sonoros nem sinal. O site fica-se pelas imagens (poucas) e por um ou outro gráfico ilustrativo em temas como economia. Na minha óptica, o site adquire um carácter demasiado estático, bi-dimensional. Embora, como já referi, o design seja atractivo, após algum tempo de navegação todo o "fogo de vista" da primeira página revela-se uma ilusão "para inglês ver". A forma mudou, mas o conteúdo mantém-se. Não era esta a mudança esperada.


Apesar de, como já referido, o Público se ter limitado a alterar a forma, estando o conteúdo ainda muito longe do desejado, é de louvar o passo dado. Revela uma grande preocupação com a intercatividade, ao disponibilizar uma pluralidade de blogs, inquéritos, e ao pôr término ao sistema de assinaturas; atreve-se a copiar os grandes - ainda que só relativamente ao layout e ao design -, cujo exemplo poderá vir a seguir no que respeita à construção, contextualização e apresentação dos conteúdos, e ainda à recorrência a profissionais do ramo e à inclusão de meios audiovisuais no site.

Esta "mudança" foi um pequeno passo no enorme percurso que o jornalismo online português tem ainda que percorrer. E não ignoramos o carácter eminentemente comercial que lhe é inerente. A estratégia de marketing é quase óbvia, especialmente quando o site disponibiliza integralmente a versão impressa online. O Público quer converter os resistentes e conquistar os convertidos. Pode até conquistar os resistentes, mas dificilmente conseguirá enganar os convertidos ao jornalismo online de qualidade. Não enquanto não passar das mudanças no meramente estéticas para o que realmente interessa, que é a formulação e apresentação adequada dos conteúdos. Tendo isto em conta, resta-nos esperar que, mais uma vez, a publicidade e o marketing sejam os motores de uma mudança que a imprensa nacional se recusa a protagonizar.

A título conclusivo e sem me perder em divagações resta-me dizer que, tendo em conta o universo de jornais online nacionais, o Público apresenta, de facto, uma qualidade acima da média. Ainda assim não satisfaz. Pelo menos não quem consome jornalismo online de qualidade.


(Uma última ressalva: a presente crítica aplica-se ao universo de jornais online criados pela imprensa escrita. Sites como o Sic online e o da TSF, criados por media tão alheios ao meio imprensa como o são a televisão e a rádio, apresentam uma maior preocupação e cuidado na apresentação dos seus conteúdos online. Esta situação pode explicar-se por uma multiuplicidade de factores, mas ainda assim não perdoa o atraso que a imprensa portuguesa online teima em levar. )

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02 October 2006

Winners


E o vencedor é...?

Costuma-se dizer que o que é bom sempre acaba e este ano o que acabou foi a boa vida. Desta vez coube-nos fazer de jurí e eleger, na nossa ainda leiga opinião, um jornal online vencedor de entre os finalistas de várias categorias.


No que respeita à primeira, "General Excellence in Online Journalism", achei por bem premiar o site do USA Today. Tendo em conta os critérios de avaliação que nos serviram de base nesta tarefa - design, usabilidade, multimedialidade, interactividade, hipertextualidade -, este site é o que se revela mais completo, obtendo, em cada um dos critérios, uma classificação positiva, apesar de não ser especialmente brilhante em nenhum deles. Digamos que é o site mais coerente, o que melhor preenche a pluralidade de requisitos a que o submetemos para esta avaliação.

Para a segunda categoria, "Breaking News", elegi o Nola. Confesso que não explorei exaustivamente o conteúdo informativo, mas, de todos os finalistas desta categoria,destaco o Nola por ter conseguido distribuir um conteúdo informativo tão vasto de um modo tão cativante. Ao clicarmos num dado dia dos meses de Agosto, Setembro, Outubro e Novembro, temos acesso a notícias desse mesmo dia respeitantes ao Katrina - em edição online e em edição impressa. O site permite uma navegação orientada e até uma reconstrução cronológica dos factos. Não sobrecarrega visulamente o internauta e ao mesmo tempo põe ao seu dispor toda a informação sobre o tema. Penso que é de louvar a singularidade desta apresentação.

MSNBC foi o site que elegi para a terceira categoria, "Outstanding use of Multiple Media". Os motivos vão muito além da simples presença de registos de vídeo de 360º. No site MSNBC a informação é literalmente traduzida em imagens e som, e os diferentes meios (audio, vídeo e imagem) interagem entre si para nos dar um retrato fiel da passagem do Katrina por Nova Orleães. Enquanto os restantes sites tendem a utilizar os diferentes meios mais isoladamente ou, por assim dizer, de um modo mais rudimentar e simplista, o MSNBC vai muito além e orquestra-os com incrível mestria, mostrando como som, vídeo e imagem se podem tornar num todo indivisível para a fruição da informação.

Last, but not least, resta-me atribuir um vencedor para a categoria " Student Journalism". Chassing Crusue foi a minha escolha. Embora tenha apreciado muito a delicadeza do layout do The Ancient Way, o conteúdo do My Blue Eyed Girl e o profissionalismo e qualidade patentes na abordagem de Rezoned2006, Chassing Crusue é, no mínimo, apelativo. Embora o tema não seja por si só o mais interessante do ponto de vista jornalístico- nesse caso o prémio seria decididamente de Rezoned2006 -, a excelente qualidade gráfica do site valeu-lhe esta humilde vitória.

E pronto, são estes os meus vencedores. Agora só me resta aguardar e ver a quantas léguas fiquei da realidade...

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