Público em Revista

Dizer-se que o jornalismo online português deixa muito a desejar começa a tornar-se num cliché. Ainda assim, por muito gastas que já estejam as palavras, o facto é que deixa mesmo muito a desejar. O jornalismo online em Portugal já nasceu com barbas, que herdou da imprensa escrita. A lógica do "jornalismo de papel" passa impune para as páginas online. As potencialidades do campo informativo online continuam a ser ignoradas, os sites criados são encarados como meros depositários da imprensa escrita.

O site do jornal Público foi recentemente reformulado. Um design mais atractivo e adequado ao meio online, bastante diferente do que conhecemos deste jornal impresso, é o principal factor a destacar deste "novo" Público. Além disso, podemos destacar uma navegabilidade mais simplificada e acessível, bem como uma razoável quantidade de links e temas. À primeira vista, o site quase merece um "satisfaz bastante".
À primeira vista, disse bem. De facto a navegabilidade e o design satisfazem bastante, mas o site, tal como a grande maioria dos sites portugueses, fica muito, mas muito além do alcançado pelos seus congéneres estrangeiros. A multimedialidade é uma distante miragem, uma vez que de vídeos e registos sonoros nem sinal. O site fica-se pelas imagens (poucas) e por um ou outro gráfico ilustrativo em temas como economia. Na minha óptica, o site adquire um carácter demasiado estático, bi-dimensional. Embora, como já referi, o design seja atractivo, após algum tempo de navegação todo o "fogo de vista" da primeira página revela-se uma ilusão "para inglês ver". A forma mudou, mas o conteúdo mantém-se. Não era esta a mudança esperada.
Apesar de, como já referido, o Público se ter limitado a alterar a forma, estando o conteúdo ainda muito longe do desejado, é de louvar o passo dado. Revela uma grande preocupação com a intercatividade, ao disponibilizar uma pluralidade de blogs, inquéritos, e ao pôr término ao sistema de assinaturas; atreve-se a copiar os grandes - ainda que só relativamente ao layout e ao design -, cujo exemplo poderá vir a seguir no que respeita à construção, contextualização e apresentação dos conteúdos, e ainda à recorrência a profissionais do ramo e à inclusão de meios audiovisuais no site.
Esta "mudança" foi um pequeno passo no enorme percurso que o jornalismo online português tem ainda que percorrer. E não ignoramos o carácter eminentemente comercial que lhe é inerente. A estratégia de marketing é quase óbvia, especialmente quando o site disponibiliza integralmente a versão impressa online. O Público quer converter os resistentes e conquistar os convertidos. Pode até conquistar os resistentes, mas dificilmente conseguirá enganar os convertidos ao jornalismo online de qualidade. Não enquanto não passar das mudanças no meramente estéticas para o que realmente interessa, que é a formulação e apresentação adequada dos conteúdos. Tendo isto em conta, resta-nos esperar que, mais uma vez, a publicidade e o marketing sejam os motores de uma mudança que a imprensa nacional se recusa a protagonizar.
A título conclusivo e sem me perder em divagações resta-me dizer que, tendo em conta o universo de jornais online nacionais, o Público apresenta, de facto, uma qualidade acima da média. Ainda assim não satisfaz. Pelo menos não quem consome jornalismo online de qualidade.
(Uma última ressalva: a presente crítica aplica-se ao universo de jornais online criados pela imprensa escrita. Sites como o Sic online e o da TSF, criados por media tão alheios ao meio imprensa como o são a televisão e a rádio, apresentam uma maior preocupação e cuidado na apresentação dos seus conteúdos online. Esta situação pode explicar-se por uma multiuplicidade de factores, mas ainda assim não perdoa o atraso que a imprensa portuguesa online teima em levar. )
Labels: Online 2º ano
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